TECNOLOGIA
Motores O.S. BE
chegam em abril
A O.S. Engine, do Japão, informou
que estão liberadas para o Brasil as vendas dos motores glow da
linha BE, que usam como combustível o Bio-Etanol, o nosso álcool
comum. As primeiras encomendas chegarão ao País entre março e
abril de 2010. A Aeromodelli Ltda., representante da fábrica
japonesa, já fez levantamento em sua rede de
revendedores para definir o porte da primeira encomenda. Tal como
acontece no Japão, os motores BE serão vendidos no mercado
brasileiro somente por meio de lojas que
ofereçam também a correta mistura combustível.
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Álcool anidro (99,5%)
Os motores O.S. BE foram desenvolvidos para usar álcool
anidro (99,5%) com 10% de óleo de rícino PA, como a
mistura que se vê garrafa da foto. Eles chegam ao
mercado brasileiro com o aval de pilotos de norte a sul,
apesar de alguns quebrarem a cabeça com o combustível
errado.
Foto:
Alex Maurício Capato Acervo
Álvaro Caropreso/Hobbylink |
Álvaro Caropreso (*)
São Paulo, SP
É grande
a repercussão do artigo a respeito dos motores O.S. BE
publicado na edição n 66 de Hobby News. Por causa dele, a
revista, o autor e a própria Aeromodelli receberam diversas
mensagens de aeromodelistas que, de um jeito ou outro,
compraram motores BE e os utilizam no Brasil desde 2008. De
modo geral, esses motores aqui chegaram por meio de
dekasseguis (brasileiros de descendência japonesa, que vivem e
trabalham no Japão). Veja no quadro os relatos de alguns
desses usuários, a quem este artigo se dedica mais
especialmente. São aeromodelistas que vinham quebrando cabeças
com o combustível.
Antes da publicação do artigo na edição 66 de
Hobby News, ninguém sabia exatamente qual tipo de álcool deve
ser usado nos motores BE. Muita gente imaginava que bastaria
comprar o álcool de posto, automotivo, e nele acrescentar
algum lubrificante.
É, mas não é
O combustível para o qual os motores BE foram desenvolvidos é a
base de etanol, ou melhor, o álcool anidro com pureza de 99,5%,
também chamado de absoluto. É o mesmo álcool anidro usado pela
Petrobrás para misturar à gasolina dos carros. Não é o álcool de
posto, aquele que vai diretamente para o tanque dos carros! Antes
da divulgação dessa informação, os atuais usuários dos motores BE
estavam a se comportar como aprendizes de feiticeiros! Tentavam
usar o álcool de posto, fácil de ser obtido e, aparentemente,
igual a qualquer outro. Isso produziu um misto de felicidade e
frustração. Felicidade porque os motores O.S. BE também funcionam
com álcool de posto. Frustração porque com esse combustível eles
funcionam mal! Por quê?
Porque o álcool de posto, dito hidratado, contém de
5% a 8% de água. Essa variação é permitida por lei no Brasil e não
afeta o desempenho dos motores automotivos. Nestes, tais
proporções de água têm, inclusive, um papel positivo, como se verá
adiante. Nos de
pequeno porte para modelismo, contudo, o excesso de água atrapalha
principalmente porque sua proporção é muito desigual no varejo.
Ela varia de distribuidora para distribuidora e de posto para
posto, o que tumultua a regulagem do carburador!
Nos motores grandes, de carros, o álcool hidratado
em altas proporções funciona
perfeitamente bem, como nós, brasileiros, estamos cansados de
saber. A água é, aliás, um dos fatores que explicam o fato de os
motores anteriores à tecnologia flex fuel serem um pouco
mais potentes do que os de mesma cilindrada a gasolina (**). É que
a água, embora não participe da combustão, atua dentro da câmara
de combustão como fator de potência, pois seu vapor em alta
temperatura também se expande junto com os demais gases da
combustão e ajuda a empurrar o pistão, numa explicação
simplificada e com o devido pedido de perdão aos engenheiros!
Não foi por acaso que aviões a pistão de formidável
performance na Segunda Guerra Mundial tiveram versões com motores
dotados de dispositivos de injeção de água para obterem potência
extra em situações de emergência! Eram os casos, por exemplo, do
P-51 Mustang e do Messerschimidt 109!
Nos micromotores, porém, uma proporção de água da
ordem de 5% torna a mistura demasiado crítica para a regulagem e
sua variabilidade dificulta ainda mais a
carburação. Mas não é só isso. O álcool de posto não é padronizado
também em relação aos aditivos acrescentados pelas diversas
distribuidoras, o que põe mais uma pitada de complicação.
Ainda que alguns aeromodelistas brasileiros tenham
se contentado com o desempenho de seus motores O.S. BE com álcool
de posto, principalmente em razão do seu baixíssimo custo, esse
não é o combustível adequado. Vale a pena insistir no álcool anidro
99,5%, pois ele é muito mais barato do
que o metanol das misturas tradicionais para motores glow e
melhor ainda! , o consumo do motor BE é cerca de 30% a 40%
menor! Ou seja, o piloto ganha duas vezes: uma, no preço mais
baixo do combustível; outra, no consumo menor!
É formidável o desempenho do motor BE com álcool anidro, para o
qual ele foi exaustivamente desenvolvido! A partida é fácil (não
requer starter), a carburação, idem, e as retomadas de
aceleração são firmes e seguras! O motor não engasga mesmo quando
submetido a retomadas bruscas em qualquer condição de voo. Além disso, o álcool anidro produzido no Brasil é
de excelente qualidade, incomparável à de qualquer outro país.
Embora esse produto não seja encontrado no varejo tal como o
metanol, aliás! não é necessário fazer nenhum malabarismo para obtê-lo
de modo seguro, pois é produzido em todas as usinas de açúcar e
álcool do País para ser adicionado à gasolina automotiva e
fartamente exportado para todo o mundo!
Os ingrediente de um bom combustível Conforme já se pde comprovar pelos testes conduzidos no Brasil
pela Aeromodelli, o motor O.S. BE funciona corretamente apenas com
uma simples mistura de álcool anidro com 10% de óleo de rícino.
Isso basta para uma boa performance, mas a mistura ideal para
qualquer motor glow deve ter algo mais.
Dois aditivos são particularmente importantes:
1 Antiespumante: para evitar a
formação de bolhas no tubo de alimentação. Em voo, essas bolhas
sabotam a regulagem que se obtém em terra, pois empobrecem a
mistura que efetivamente entra pelo carburador. Ou seja, torna-se
maior a proporção de ar na mistura, o que resulta em falhas por
falta;
2 Antioxidante: para preservar a
qualidade da mistura, tal como em todo bom combustível glow a
metanol. Sim, pois o álcool anidro também é higroscópico (ou
hidrófilo), isto é, absorve a umidade do ar. Essa absorção se faz
associada a uma reação de oxidação do álcool, o que significa que,
após algum tempo, o mais importante componente da mistura não
estará em sua plena integridade! É por essa razão que se escurece
uma mistura simples de metanol ou etanol com lubrificante. De
início bem clara, de um amarelo levemente esverdeado, ela adquire
um tom de amarelo escuro semelhante ao da gasolina comum! Na
prática, isso indica que há na mistura menos metanol ou etanol do
que se imagina.
Esse aditivo antioxidante não tem a missão de
evitar a oxidação das peças de aço do motor! Seu compromisso diz
respeito apenas à oxidação do próprio combustível. Para diminuir a
oxidação das peças de aço é indispensável a aplicação de um bom
óleo de pós-funcionamento (after run, como também se diz)
quando o motor ficará parado por muitos dias ou semanas.
Nenhum combustível de boa qualidade tem como
aditivo qualquer óleo que se assemelhe a um after run ou
que tenha essa função! Todos, contudo, levam pelo menos um antioxidante
para preservar os próprios ingredientes da mistura! Isso é
importante principalmente porque os combustíveis vendidos prontos
podem ficar estocados ou em trânsito muitos meses entre a fábrica
e o consumidor. Seu caráter higroscópico se manifesta mesmo quando
os recipientes estão lacrados e se enfatiza depois de abertos.
Fica, assim, uma dica para quem eventualmente
prefira fazer em casa sua própria mistura, seja a base de etanol
ou de metanol: não vale a pena estocar grandes volumes. É melhor
preparar pequenas doses para consumo imediato. Para quem não se
der a esse trabalho, a Aeromodelli coordena no Brasil, com a
supervisão da O.S., a produção de uma mistura semelhante à
desenvolvida para os motores BE no mercado japonês, com os
aditivos convenientes.
Lubrificar e arrefecer
Os japoneses
da O.S. acentuam muito o uso de lubrificante orgânico (não
sintético), pois levam a sério os aspectos ambientais. Preferem um
produto que seja consumido pelos micróbios ao cair chão, ao
contrário dos óleos sintéticos, geralmente também derivados do
petróleo fóssil, que podem levar centenas ou milhares de anos para
serem digeridos pela natureza.
Além disso, os engenheiros da O.S. sabem também que
o óleo de mamona o famoso rícino , é superior a qualquer óleo
sintético em poder de lubrificação. Sabem também que o papel do
óleo em um combustível glow não é só o de lubrificar. Esta
tarefa, aliás, pode ser feita por uma proporção bem pequena de
óleo na mistura (algo como 2% a 4%). Proporções da ordem de 10%
(ou mais, como nas misturas a base de metanol) são necessárias
para que o óleo possa transferir bastante calor de dentro para
fora do motor. Para isso, é essencial que ele não entre em
combustão, o que significa não inflamar-se nas temperaturas
vigentes dentro do motor, mantendo sua integridade ao passar por
todo o ciclo de funcionamento. Nesse sentido, o óleo de rícino não
é superado por nenhum óleo sintético economicamente viável numa
mistura para modelismo!
(*) Publicado originalmente na edição n 67 de Hobby News.
(**) Nos motores de carros
flex fuel
praticamente não há ganho de potência quando se usa
100% de álcool. Esse é o preço do lado
flex
dessa tecnologia, pois a geometria no motor deve ser aceitável
também para o uso da gasolina. Ou seja, os motores
flex
têm a capacidade de ajustar o instante de disparo da centelha das
velas, mas o volume da câmara de combustão não pode variar ele é
fixado por uma equação de compromisso que contenta aos dois
combustíveis.
COMENTÁRIO
RELATOS DE QUEM JÁ CONHECE
Zona
da Mata
Li na edição 66 de Hobby News a reportagem acerca do
motor O.S. BE (Bio-Etanol). De imediato, posso
assegurar ser um motor confiável e bastante econmico,
sim! Logo que soube da notícia do lançamento desse
motor no Japão, meu irmão Sílvio Agostini,
aeromodelista de Eugenópolis, MG, tratou de importá-lo
e pagar pra ver. Vejam como uma notícia boa,
principalmente por tratar de economia e menos
toxidade, movimenta a turma voadora dos glow!
Provavelmente, os dois primeiros motores desse tipo
que chegaram na nossa região, a Zona da Mata, logo
após o lançamento no Japão, passaram por Bom Jesus do
Norte, ES, onde resido.
Realmente,
é muito gratificante saber que os motores estão se saindo
bem. E soubemos disso bem antes de os exemplares serem
enviados para testes ao Brasil, conforme citado na
reportagem da revista. Para confirmar alguns aspectos do
motor verde, deve-se ressaltar que, como todo motor a
combustão, o O.S. BE também precisa ser ajustado de forma
a render o melhor possível, o que qualquer aeromodelista
logo dá conta.
Em Eugenópolis, o primeiro motor a
bio-etanol, um 55AX-BE, já rodou em um Spot On 50, em um
Cessninha (à esq.) e em um Tango. E rodou
maravilhosamente bem! Logo em seguida, mais dois foram
comprados, também funcionando perfeitamente em seus
aviões, um deles um Sky Rider, da Radar, do aeromodelista
Orestes, de Laje do Muriaé, RJ. Meu irmão Sílvio já está
se preparando para rodar um motor BE em um helicóptero,
talvez um Raptor Thunder Tiger ou assemelhado.
Por fim, enfatizo que o motor é confiável,
merece respeito e tem muito futuro. Já estamos de olho
nele faz tempo! Agora, aguardamos a confirmação dos testes
com a reportagem feita nessa fantástica revista. (Cléber
Pereira Agostini Júnior Bom Jesus do Norte, ES)
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Na foto mais ao alto, percebe-se a arruela
verde característica do motor BE de Francisco Lino; abaixo
desta, vê-se a caixa de um exemplar da série 001, que
certamente já merece a classificação de histórica!
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Ilha do
Fundão
Li com
interesse a matéria sobre os motores O.S. movidos a
etanol. Desde outubro de 2008, na Associação Insulense de
Aeromodelismo (AIA), do Rio de Janeiro, temos feito testes
com etanol em vários motores 2T e 4T e descobrimos que um
fabricante nacional e um japonês já haviam se antecipado
nessa área. Através de colegas do Maranhão, chegamos a um
contato no Japão que nos vendeu, em maio 2009, um O.S.
55AX-BE. O motor foi instalado em um Vênus 40 e já acumula
12 horas de voo. Como não sabíamos qual o combustível
correto, usamos o que estava sendo testado nos motores
glow convencionais. Atualmente, usamos álcool
automotivo com 10% de óleo de rícino e 1% de acetato de
amila. O avião voa muito bem e sobe na vertical com
facilidade. As principais diferenças são:
1 Só liga com starter
elétrico, após abrir a agulha de alta rotação em uma
volta. Aquecido o motor, fecha-se a agulha;
2 Deve ser acelerado com suavidade para não
engasgar;
3 A regulagem do carburador é mais crítica e
necessita de muita precisão;
4 É muito sensível em relação à instalação do
tanque e das conexões para o motor, que precisam ser
perfeitas.
Os motores a etanol são o futuro do
aeromodelismo, principalmente porque o metanol é muito
tóxico. Em breve, teremos motores com bomba, motores 4T e
motores wankel! Só dependemos do interesse das
grandes fábricas para que isso ocorra logo. (Francisco
Lino Rio de Janeiro, RJ)
Resposta:
Francisco, seu próprio relato indica o motor O.S. BE não
funciona bem com a mistura a base de álcool de posto,
mesmo com aditivos para auxiliar a combustão! Ademais, o
acetato de amila é muito perigoso. Seu vapor é explosivo e
nocivo para os pulmões e olhos!
Para que
se defina o bom desempenho do motor não basta que o avião
suba na vertical. A partida deve ser fácil, com ou sem
starter, e as retomadas de aceleração devem firmes e
seguras, tal como em qualquer outro motor glow a metanol.
Todos os testes mostram que o motor O.S. BE é
perfeitamente capaz disso! Um simples peteleco na hélice é
suficiente para ele pegar e a carburação é tranquila,
desde que se use álcool anidro (etanol 99,5%). Então, você
poderia dizer, com razão, que assim não tem graça, pois
não se acha álcool anidro em qualquer lugar. De fato, mas
o metanol é muito mais difícil de ser encontrado! O álcool
anidro é produzido no Brasil em vastas quantidades, tem
excelente qualidade e o preço nas usinas é de menos de 1
real por litro. Ou seja, é uma alternativa de combustível
muitíssimo mais barata do que qualquer outra com base no
metanol. É por aí que temos de centrar os nossos esforços
para viabilizar essa alternativa! (A.C.)
No sul
Li a matéria sobre os novos motores O.S. a etanol, que
cita a necessidade de se usar álcool anidro (99,5%).
Ocorre que eu soube de um pessoal aqui no Sul que tem
usado nesse motor álcool automotivo, de posto. O motor
falha vez por outra, mas funciona direitinho. Essa
exigência de usar álcool anidro não seria um pouco de
exagero? Será que isso não depende apenas de mais
desenvolvimento desse tipo de motor? Lembro-me dos
primeiros motores a álcool no Brasil. Foi uma questão de
desenvolvimento da tecnologia! (Luiz Moura Caxias
do Sul, RS)
Resposta:
Luiz, a questão chave é o tamanho! Micromotores são muito
mais críticos do que motores grandes! Não vale a
comparação com o desenvolvimento dos carros a álcool no
Brasil! (A.C.)
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